Sabemos que ninguém gosta de crises. A demanda costuma reduzir fortemente ao mesmo tempo que custos aumentam para boa parte dos negócios. Apesar disso, será que crises são totalmente prejudiciais?
Jeff Bezos disse em 2001, durante o estouro da bolha da internet: “Isso é saudável. É como se fosse um sistema biológico de seleção natural. Estamos passando por um período de consolidação. É do período de consolidação que saem os líderes, os mais fortes. E nós somos os melhores.”. Mesmo com grandes dificuldades em sobreviver com a crise, a Amazon é hoje a maior empresa de ecommerce do mundo.
Com esse depoimento de Jeff Bezos já podemos perceber que crises podem ser encaradas de maneiras diferentes. Podemos aceitar apenas a ideia de que será realmente difícil sobreviver ou podemos observar com cuidado novas tendências e oportunidades de negócio.
Nesse post vamos contar histórias de grandes empresas que surgiram ou que cresceram muito não apenas durante as crises, mas principalmente por causa delas.
MONOPOLY
A crise de 1929 foi uma das maiores crises da história. Os Estados Unidos teve uma redução do PIB de 45% e o desemprego alcançou um patamar próximo dos 25%. Uma dessas pessoas que ficaram desempregadas foi Charles Darrow, morador do estado da Pensilvânia.
Durante o longo período que ficou em casa, Charles lembrou de um jogo que conheceu com os colegas de trabalho, o qual simulava a compra de imóveis fictícios. Pensou que esse jogo poderia entreter seus filhos e então desenhou em uma toalha casas e prédios inspirados no bairro em que morava e definiu algumas regras.
O jogo que incentivava a imaginação de ter diversas propriedades em um período difícil como naquela época não só chamou a atenção de crianças, mas também de adultos. Com o grande interesse pelo jogo, Charles acreditou que ali poderia ter um negócio, então procurou a maior fabricante de jogos da região: a Parker Brothers.
A empresa no primeiro momento disse que o jogo era muito lento e complexo, então não topou produzí-lo. Charles continuou acreditando na sua ideia e decidiu produzir mesmo assim. Com a ajuda de familiares e amigos fabricou 5 mil jogos e vendeu para uma loja de departamentos.
O jogo começou a ser muito comentado e jogado pelas pessoas e chamou a atenção da Parker Brothers, que inicialmente não havia acreditado na ideia e que aceitou produzir o jogo que ficou conhecido como Monopoly. Atualmente o Monopoly é produzido em 26 línguas diferentes e comercializado em 80 países.
AVON
Era fim do século XIX e havia uma ameaça de recessão e um forte desemprego nos Estados Unidos. David McConnell, com 16 anos, vendia nessa época enciclopédias de porta em porta, porém tinha muita dificuldade de ter a atenção das donas-de-casa e, consequentemente, fechar as vendas.
A partir de um comentário de seu amigo farmacêutico, teve uma ideia que poderia melhorar seus resultados. Seu amigo comentou que as mulheres não tinham interesse por livros, mas sim por ficarem mais atraentes. Dessa forma, David teve a ideia de oferecer um perfume como brinde no momento de apresentar seus livros para ganhar a atenção.
Com a ajuda de seu amigo criaram uma fragrância que parecia agradável e David começou a testar a estratégia. Após várias tentativas percebeu que as donas-de-casa se interessavam apenas pelo perfume e não por seus livros, inclusive uma delas pediu por mais dois frascos.
Isso foi ruim e bom para David. Ele percebeu que realmente não havia interesse nenhum pelas enciclopédias, apesar de mostrar seus claros benefícios nas reuniões sociais, estudos e trabalho dos membros da família. Por outro lado, percebeu que havia uma grande demanda pelos perfumes.
Dessa forma, surgiu a Avon. David McConnell aumentou sua linha de produtos com cremes e xampus e aumentou sua força de vendas de porta em porta através de revendedoras mulheres.
No momentou isso talvez não fosse tão claro para David, mas esses produtos eram em grande maioria utilizados pelos mais ricos e essa popularização e praticidade para obter produtos como aqueles foi de grande valor para as mulheres na época.
SONY
Imagine uma empresa japonesa tentando vender rádios na europa logo após o fim da segunda guerra mundial. Os japoneses, junto com alemães e italianos, eram considerados responsáveis pela destruição no continente europeu. Além disso, combine a esse fator as vendas serem realizadas por um japonês de porta em porta, abordagem que não costuma ser muito bem-vinda pelas pessoas.
Essa era a situação de Komashio, o vendedor não voltou para o Japão pelo simples fato de que, por mais que a situação fosse ruim da europa, era ainda pior no Japão, pois o país estava completamente devastado devido a guerra.
Komashio ao buscar repetidas vezes vender seus rádios para comerciantes, recebeu a resposta de um comerciante de hamburgo de que não compraria porque comprava apenas produtos de qualidade. Em busca apenas de uma oportunidade de expor mais seu produto, Komashio fez a proposta de pagar para que seu rádio fosse exposto.
O vendedor local aceitou expor o produto por uma semana, mas com receio de que não houvesse procura do rádio, Komashio buscava por alternativas para gerar demanda. Avaliou o dinheiro que possuia e percebeu que não havia o suficiente para divulgar com propagandas, então, avistando um grupo de estudantes na rua, os convidou para acompanhar uma demonstração do uso do rádio.
Após a demonstração, perguntou se aqueles que gostaram do rádio estariam dispostos a promover o produto em troca de uma pequena quantia. Os estudantes aceitaram e o trato foi de entrarem na loja, pedirem para ouvir e mexer no rádio e elogiarem o produto, além de comprarem e devolverem a Komashio.
Depois de uma semana de exposição, o gerente da loja solicitou mais rádios para vender. Com a divulgação dos estudantes e a exposição da loja, as vendas começaram a ocorrer naturalmente. Essa ação, por mais estranha que seja, foi a forma utilizada pela Sony para entrar na europa. Essa estratégia foi utilizada em outras cidades da Alemanha e Polônia.
Essas três histórias foram retiradas do livro Oportunidades Disfarçadas, de Carlos Domingos. No livro são apresentadas inúmeras outras empresas que surgiram ou cresceram a partir de situações ou motivos inusitados, como: grande concorrência, reclamações dos clientes, fracassos e erros. Se você quer se inspirar ou buscar relacionar essas histórias com a situação que está vivendo hoje para criar um negócio, com certeza é um excelente livro.
Fonte: Domingos, Carlos. Oportunidades disfarçadas. Sextante. Edição do Kindle.